Academia Ubajarense planeja calendário de eventos
Por Monique Gomes No dia 15 de março de 2025, às 14 horas, membros da Academia Ubajarense de Letras e Artes reuniram-se no Hotel Fazenda Engenho Velho, em Ubajara, para discutir os rumos da instituição e celebrar conquistas recentes. Durante o encontro, os acadêmicos comemoraram o lançamento do livro Gruta do Ceará, um conto indígena assinado pelo acadêmico Henrique Moreira. A obra reforça o compromisso com a valorização da cultura e da literatura. Logo após, Ronildo Nascimento, secretário da Academia, procedeu com a leitura da última ata, permitindo que todos os presentes ficassem a par dos acontecimentos e decisões anteriores. Em seguida, a tesoureira Teresinha Moura apresentou uma proposta para o ajuste financeiro da Academia, que foi aprovada por unanimidade. Outro ponto de destaque foi a intervenção de Joaquim Aristides, doador do terreno onde será construída a sede da Academia. Ele ressaltou a importância de demarcar formalmente o imóvel, uma medida que, segundo ele, contribuirá para a consolidação e valorização do espaço destinado às atividades culturais. Além dessas pautas, o presidente da Academia, Nicolas Aguiar, apresentou o calendário de eventos para os próximos meses, reajustado conforme as demandas dos membros. Entre as iniciativas, estão: Por fim, o grupo também abordou estratégias para a aquisição de novos membros e o planejamento da nova cerimônia de posse, que acontecerá em agosto – mês de aniversário da cidade. Com esse movimento, a Academia incentiva a participação de novos talentos e o fortalecimento da cena cultural regional.
21 anos em um dia
Por Melissa Vasconcelos Na noite do dia 02 de março de 2025, a população brasileira abre o champanhe para receber o reconhecimento de milhares de degraus sobrepostos à construção da cultura brasileira. “Tem maçã, laranja e figo, banana, quem não comeu? Manga não, manga é o perigo, quem provou quase morreu”. Ora, Juca Chaves! Não haveria trilha sonora mais oportuna para discorrer acerca da premiação do Oscar da noite do domingo passado. Para assistir à premiação, preparei a receita do suflê de queijo do livro de receitas da Eunice Paiva, em meio ao clima chuvoso da serra e aos ânimos carnavalescos de Ubajara à flor da pele. Se bem que, na minha cútis, o espírito de bloco e avanços do carnaval não pulsou muito bem esse ano. Porém, para o dia do Oscar, fazendo sol ou chuva, estando eu doce ou agridoce, deleitei-me a me concentrar em meu bom humor, pois não é sempre que se vê uma múltipla premiação – Cinema, História, Literatura, Direito – em uma só estatueta para a Arte Brasileira. A receita do suflê de queijo foi retirada do próprio livro “Ainda Estou Aqui” , que originou o filme de igual nome. Logo pronto, servi-me com o suflê quentinho, para que não murchasse. A preparação do suflê foi um afago ao meu peito, como o restante do meu dia 02 de março assim esteve em suas horas anteriores – pela manhã, recebi uma bolsa que minha madrinha de batismo comprou de presente para meus trabalhos e estudos, e ganhei uma linda blusa verde de crochê de minha madrinha de crisma. Os presentes, sejam de coisas ou de pessoas, precisam ser postos à mesa ao saírem de seus fornos, tal qual ao suflê de queijo, para que não murche. Todo amor, se não servido quente, murcha. O amor é como um suflê de queijo, fogoso e saudoso, bem servido para um dia de chuva. A você que lê, quando ganhares um suflê de queijo, não se demore a degustá-lo, para que não perca a chance de sentir a maciez de uma deglutição sem atrasos, de um paladar sem jogos. Não oportunamente, a celebração do Oscar caiu no domingo de carnaval, o período do ano mais comemorado pelos brasileiros em suas diferentes facetas e formas de articulação. Dessa vez, estendeu-se às vantagens para festejar a Cultura Brasileira, a Literatura Brasileira, a formação política, a História, os Direitos do nosso torrão: Marcelo Rubens Paiva, filho da advogada de Direitos Humanos Eunice Paiva e do deputado federal Rubens Paiva, escreveu geniosamente a obra “Ainda Estou Aqui”, celebrada pelo prêmio Jabuti de Literatura em 2016, na âncora do mundo das Letras, e, agora, quase dez anos depois, adaptado para abrir luz aos olhos e música aos ouvidos – atentos e desatentos – da população brasileira e internacional, em sua adaptação cinematográfica dirigida por Walter Salles de mesmo nome “Ainda Estou Aqui”, com sua resplandecente premiação no Oscar. Entre os anos de 1964 a 1985, parava a sociedade brasileira e se amortecem os juízos e os letrados para o abate dos corpos, o derrame de sangue, as bocas silenciadas, as famílias destruídas e as vidas subtraídas em favor de um regime sanguessuga. Não se abatiam somente as vidas dos deputados federais, defensores, escritores, médicos, músicos: retiravam-se as vidas dos filhos, dos pais, dos irmãos, do alicerce de famílias inteiras. Quando Marcelo Rubens Paiva perdeu seu pai para a repressão ditatorial, tinha apenas 11 anos ao ver, em 1971, a vida de seu pai sendo reduzida como se subtrai de um número de uma conta de matemática, sem retorno de notícias, sem documentações; ao ver sua mãe em luta, tomando as rédeas de uma família de cinco filhos, perdendo o seu grande amor e companheiro em meio a enxurrada de sangue jorrado nos asfaltos da sociedade brasileira, à época. Com certeza, a raiz da veia literária de Marcelo Rubens Paiva nasce da sensibilidade em meio a brutalidade – a manifestação artística de Marcelo por meio da escrita assemelha-se à floração do Mandacaru, sobrevivendo às secas em virtude da capacidade de reter água. As palavras de Rubens Paiva nasceram de socos no estômago, como se resgata da literatura lispectoriana, e de tantos socos e ferros ornamentados ao percorrer da estrada, transborda-se a retenção de palavras em arte resistente, em livro. A sensibilidade provém das rudezas, e a brutalidade provém da ausência de sensibilidade. Por isso, toda a arte costuma desaguar das faltas, e toda a seca costuma advir dos excessos. A quem mais falta, mais nascem mais frutos, ainda que estes demorem a frutificar. Admiramos hoje punho de um escritor que denuncia, por meio de sua brutal sensibilidade e de sua sensibilidade brutal, o rasgo de inúmeras famílias destruídas, o grito sufocado de sua mãe, a dor de cinco filhos em desespero e desamparo. Celebramos a força do cinema e da autenticidade brasileira, e mais do que nunca, lembramos da nossa história como primeiro suplente do juízo. O Oscar de melhor filme internacional para “Ainda Estou Aqui” é de Marcelo Rubens, de Eunice Paiva, de Walter Salles, de Fernanda Montenegro, de Fernanda Torres, de Selton Mello, é Nosso; sobre as nossas lutas, os nossos Direitos, as nossas conquistas, a nossa história, o nosso jeito de escrever, o nosso jeito de atuar, a nossa cultura plural: é para nos lembrar que ainda estamos aqui – não aos prantos, mas sorrindo, como símbolo de força, embate e resistência. Fomos para a bancada de jurados do Oscar o que um suflê de queijo quentinho é para os cinco sentidos dos corpos e um amor sem jogos é para o coração.