Carta do ubajarense José Maria Fernandes

Carta de José Maria Fernandes a Ubajara

Por José Maria Fernandes, 22 de janeiro de 2025 No momento em que recebo a grande distinção de ser homenageado pelos amigos da Academia Ubajarense de Letras e Artes de Ubajara, gostaria de fazer uma sucinta exposição de todas as escolas que funcionaram em Ubajara, a partir de 1910, ou seja, antes da conquista da autonomia do município, antes distrito de Ibiapina, que ocorreu a 24 de agosto de 1915, até 1960. ​A primeira escola pública da cidade foi construída em 1944, pelo governador-interventor Dr. Menezes Pimentel, e teve o título de Escolas Reunidas de Ubajara, cuja utilidade foi grande, inclusive para apresentações de teatro e cinema. Foi ali onde, o professor Edmundo Macedo encenou a peça “O Ébrio”, interpretada pelos irmãos Zequinha Souza e Maria Helena. ​Antes da modesta Escolas Reunidas, que virou residência, a escola particular mais famosa foi da professora Marocas Perdigão, a quem se deve a preparação de grandes intelectuais da cidade, a começar por Raimundo Magalhães Júnior, que chegou à Academia Brasileira de Letras. Ela preparou com total eficiência quase duas gerações de ubajarenses. ​É preciso fazer justiça a outro professor primário que prestou enormes benefícios à Educação, a uma cidade que apenas começava a se desenvolver. O respeitado e estimado professor Joaquim Furtado, que por mais de 30 anos manteve a sua inesquecível escola rural, iniciada no Sítio do Meio, e que resistiu até 1970, na localidade do Pitanga. Foi ele quem realizou o primeiro desfile cívico com seus alunos nas ruas de Ubajara, com cena de proclamação, Príncipe D. Pedro e tudo. ​Outra figura, “caída do Céu” dos Inhamuns foi o professor Francisco de Assis Feitosa, que foi definitivamente “adotado” pela cidade, sendo que da sua Escola Cesário Costa saíram incontáveis estudantes para escolas civis e militares da capital cearense e outras metrópoles. Foram 15 anos em que ele, com cultura e segurança, transformou alunos em oficiais das Forças Armadas, engenheiros, médicos, advogados e outras carreiras importantes. Outras Escolas foram criadas, antes que que pudéssemos contar com os cursos ginasial e de segundo grau. Em 1953, na tentativa de se criar um Ginásio, equiparado ao D. Pedro II – RJ, uniram-se jornalista Manuel Miranda, Padre Moacir, vigário da Paróquia, jornalista Ubatuba de Miranda, professor Hemetério e Eudes Menezes, criaram o Educandário Frederico Ozanam, que seria a semente do nascedouro do Colégio planejado. Mas, a ideia teve vida curta. Funcionou na Escolas Reunidas. Também Vale registar tentativa do Padre Moacir que, aproveitando a boa estrutura da Sede da Irmandade de São Vicente de Paula, tentou levar m frente uma pequena, mas, bem instalada Escola São Vicente que mesmo contando com a colaboração do professor Hemetério e a professora e artista Alaíde Holanda, não foi adiante, à falta de maior apoio e de recursos. ​Por ter sido testemunhe a partícipe de algumas escolas de Ubajara, decidi oferecer à Academia essa modesta contribuição, cujo objetivo maior e mais importante é o de ajudar a evitar que os esforços dos educadores do passado do passado de Ubajara no campo da Educação sejam atirados no rol do esquecimento. Muito tem sido feito recentemente, o que poderá ser melhor testemunhado por aqueles que vêm acompanhando de perto os notáveis avanços no campo da Educação e da Cultura na nossa terra, modesta, mas, motivo do nosso orgulho. ​Muita gratidão a todos os que lembram o meu nome como ubajarense homenageado, sempre disposto a mostrar todo o amor pela minha Ubajara.

Diário de um velho

Artigo de Manoel Ferreira de Miranda, ubajarense ilustre

Por Manoel Ferreira de Miranda, 02 de Agosto de 1951. Artigo cedido por Marcelo Miranda. Hoje, 02 de agosto de 1951, quando completo 65 anos de idade, dou começo a este diário. Se nada poderia eu dizer do passado, menos ainda terei que dizer daqui por diante, que o tempo e a vida que me resta, sei-o é bastante pouco, e muitos são os afazeres que tenho sobre os ombros. Antes, porém, de dar início a estas páginas anotando as impressões que tiver, e que o farei com toda sinceridade, pois, que aqui falarei de mim para mim mesmo, quero fazer um retrospecto sobre a minha vida pregressa. Nasci em Granja, a 02 de agosto de 1886, em pleno regime monárquico. Fiquei órfão de mãe aos dois anos, não tendo, portanto, a menor lembrança de minha mãe. É esse desgosto íntimo que me acompanha na vida. Meu pai, Antônio Ferreira de Miranda, contraiu segundas núpcias com a Sra. Joana Carneiro de Aguiar, filha do Sr. Raimundo Antunes de Aguiar e de D. Maria Carneiro Aguiar, passando então a residir no lugar de Canto Grande, propriedade do sogro, do município de Granja, distante duas léguas de Almas, abundante praia esta, em peixes. Neste lugar passei a minha primeira infância despreocupado e feliz, quando contava os meus 12 para 13 anos de idade. Lembro-me ainda, com saudades, das caçadas que ali fazia, de machado às costas, acompanhada por uma cachorrinha danada por preás, aliás a minha caça predileta. Eu era exímio caçador de abelhas. Nas minhas diárias excursões venatórias, conduzia sempre uma cabaça de gargalho atada à cintura, colhida do oco das umburanas. Certa vez cheguei a descobrir uma colmeia, da qual tirei a vasilha pela boca, simplesmente observando o rumo que tomavam as operárias, quando os pezinhos cheios de barro, alavam-se das poças dos caminhos. Fui ainda um grande pescador. Quantas e quantas vezes não trazia para o lar, bonitas cambada de peixes fisgados pelo meu anzol mágico! Quando as marés enchiam, naquele rio, cujas as nascentes vinham das Cabeceiras”lá estava eu lépido, à beira d ́água contemplando os graciosos cavalos-marinhos que enfronhados, subiam na corrente. Certa vez escapei de morrer numa dessas minhas pescarias. Debruçado à borda do rio, de linha amarrada a um dos pés, estava, cochila não cochila, quando senti-me fortemente arrastado para o leito do rio que, profundo, de águas revoltas, ameaçava tragar qualquer vivente. Felizmente, a linha partiu-se, quando já me encontrava com água pela cintura. Algum feroz habitante daquelas profundezas engolira meu anzol, com isca e tudo, levando o pedaço de cordão que procurara trinar mais consistente com sumo de folhas verdes de mangue. Conhecia bem o métier da pesca, acompanhando os velhos pescadores, pela noite a dentro, na tapagem das cambôas, no estender das redes quando era hora do preamar. Outra cousa em que era perito era no arrancar dos caranguejos dos buracos em que viviam, à sombra das viridentes florestas aquáticas. Sem temos algum passava querosene no rosto para evitar a picada dos mosquito, e, chapinhando na lama, atolando-se até os joelhos, lá se me botava por aquelas paragens inçadas de quaixinis, introduzindo aqui e ali o braço todo nos burados(sic) dos caranguejos, donde os arrastava, enormes, com as suas tesouras aguçadas, até encher o urú de palha de carnaúba. E os meus andares em busca das frutas silvestres? … No tempo dos cajús, longe de casa, nuns pés só de mim conhecidos, e que eram os que davam frutos mais doces e cheiroso(sic), que delícia! Na época dos muricis, cuidava bem de uns, colhendo-os, a fartar, por aquelas chapadas sem fim. Quando amadureciam as ubias e as maria-pretas, regalava-me bastante com elas. Não parava quase em casa. Minha vida era no mato fazendo fojos, procurando ovos de nambús. Meu pai que nesse tempo tinha negócios com José Firmo da Frota, de Granja, tipo de homem empreendedor e progressista, que, se não me engano, foi o primeiro a montar, naquela cidade, uma fábrica de descascador de algodão e fazer embarque de ossos para a França, comprou-me, certa vez, uma espingardinha passarinheira. Com esta arma abati muita avoante nos bebedouros, e muito periquito quando aos pares se beijavam nas moitas de mofumbo. Nunca me esqueço, porém, e ainda hoje sinto deste remorso, do momento em que imprensada e cruelmente descarreguei aquela arma sobre uma mimosa rolinha fógo pagou, que arrulhava ternamente junto ao filhote, num ninho construído com amor num galho de um marmeleiro, isto e o fato de quase ir matando um dia meu irmão Florentino, quando experimentava brincar o gatilho, fizera com que eu tomar tal aversão à lazánia, que nunca mais dela quis saber. Do Canto Grande onde passei os primeiros dias da adolescência, guardo saudosas lembranças. Não posso esquecer a velinha Maria Carneiro, sogra do meu pai. Tive nela a minha melhor amiga. Vi nela a imagem de uma verdadeira mãe. Era ela que me protegia, que reservava para mim os melhores quitutes. Ainda hoje, e já se vão 65 anos, tenho profunda saudade dessa santa criatura. Minhas correrias pelos amplos e planos salgados todas as tardes espantando os aratús que, céleres, metiam-se nos seus furos pela terra a dentro, são inesquecíveis! Ativo, gozando ótima saúde, respirando aqueles ares puros da floresta, banhado de sol, saturado de iodo pelas emanações de águas marinhas, embrenhava-me nas selvas escuras, armando fojes nas veredas dos preás, e as vezes, mergulhando na água quente dos poços, baldeando-a até embebedar as saúnas que ali haviam ficado na baixa das marés. Muitas vezes estendia-me no chão à sombra de uma árvore qualquer passando horas inteiras a contemplar as nuvens que, no alto, rápidas corriam. Tinha, então, um desejo doido de desvendar o mistério das cousas! Queria saber, conhecer algo. Foi quando se declarou a seca dos 900. A terrível catástrofe estalou, terrível, mas eu só tomei conhecipelo fato de ver a dificuldade com que se adquerida a própria água de beber. Tínhamos que ir busca-lá no lugar chamado Izidoro, distante de Canto Grande uma boa

Academia Ubajarense empossa nova diretoria

posse da nova diretoria da Academia Ubajarense de Letras e Artes

Por Monique Gomes Ubajara. A Academia Ubajarense de Letras e Artes (AULA) realizou, no último dia 22 de janeiro de 2025, a cerimônia de posse da nova diretoria no Auditório José Parente da Costa, na Câmara de Vereadores. O evento reuniu autoridades, acadêmicos e convidados em uma noite marcada por homenagens e reforço do compromisso da instituição com a valorização da cultura local. A AULA, fundada em 16 de dezembro de 2023, tem como missão preservar, incentivar e promover as letras e as artes, honrando os valores culturais e históricos do município. Sua criação representa a concretização de um sonho inicialmente idealizado por Monsenhor Francisco Tarcísio Melo (in memoriam), pioneiro na visão de uma instituição dedicada à cultura. Agradecimento do ex-presidente Francisco Jácome, ex-presidente da AULA, expressou sua gratidão pelo período à frente da instituição e destacou as conquistas alcançadas: “Sou grato por terem me aceitado como presidente e como membro da Academia. Grato por terem me ajudado a dar vida à AULA, por ela existir e estar dando seus pequenos passos. Grato por realizarmos um sonho de muitos que não conseguiram, por termos adquirido um terreno para a construção da nossa sede e criado um site próprio para divulgar nossos feitos.” Presença de autoridades e entrega de comendas A solenidade contou com a presença de diversas autoridades locais, incluindo o prefeito de Ubajara, Adécio Muniz; o vice-prefeito José Roberto; o presidente da Câmara de Vereadores, Emílio Silva; Maiza Araújo, assistente da juíza da comarca; Dr. Maxwel França, promotor de justiça; Frank Castro, representante da arte ubajarense; Jamile Góes, secretária de Cultura; Lione Silva, secretário de Educação; Padre Carlos Alberto; Pastor José William; Dr. Mário de Oliveira, diretor do IFCE; e Ulisses Pereira, representante da Maçonaria. Durante a cerimônia, o novo presidente da AULA, Nicollas Aguiar, realizou a entrega de comendas a personalidades que se destacaram por sua contribuição à cultura e ao desenvolvimento da Academia. Os homenageados foram: José Maria Fernandes – representado por Dr. Pedro Henrique; Dra. Maria Graciema Fernandes Siqueira, Francisco Jácome Sobrinho e Joaquim Aristides Neto. Discurso do novo presidente Em seu discurso de posse, Nicollas Aguiar prestou uma homenagem a Fernando Tadeu, figura importante da história de Ubajara, falecido recentemente. O presidente ressaltou a importância da preservação da memória histórica do município: “Quando um idoso falece, é uma biblioteca que se incendeia, como diz o ditado. Quantos idosos faleceram e quantas bibliotecas já foram incendiadas? Temos que fazer uma busca ativa. Será que os alunos sabem da importância do Pedro Ferreira de Assis ou do Padre Monsenhor Tarcísio? A história de um povo é muito importante.” Além disso, o acadêmico Ronildo destacou o lançamento do site oficial da AULA, um novo canal para divulgar as ações da instituição e manter viva a história de Ubajara. A posse da nova diretoria da Academia reafirma o compromisso do grupo com a cultura local e o fortalecimento das letras e das artes, garantindo que a tradição literária e artística de Ubajara continue a ser preservada e incentivada para as futuras gerações. Membros da nova diretoria Presidente: Nicollas PereiraVice-presidente: Luciano Jácome de Melo;Secretário: Ronildo Nascimento da Silva;Tesoureira: Teresinha Araújo Moura;Diretora de Publicações e Comunicações: Monique GomesConselho Fiscal: Joaquim Aristides Neto, Clara Lêda de Andrade e Werllem Fontenele.

Empresas são homenageadas por 50 anos de atuação

CDL Ibiapaba homenageia ubajarenses

Por Monique Gomes Na noite de 27 de dezembro de 2024, o Hotel Fazenda Engenho Velho, em Ubajara-CE, recebeu os associados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Ibiapaba para uma confraternização. O evento celebrou a trajetória de duas empresas que completaram 50 anos de história e dedicação à região, homenageadas com a Moção de Aplauso, comenda concedida pelo sistema CNDL para reconhecer a relevância de serviços prestados à comunidade. Os agraciados da noite foram a Odonto Viana, representada pelo Dr. Antônio Viana Vasconcelos, e a empresa Irmãos Pereira e Cia Ltda. Durante a cerimônia, depoimentos e históricos das duas instituições emocionaram o público presente, reforçando a importância de suas contribuições para o desenvolvimento local. Dr. Antônio Viana Vasconcelos, natural de Sobral e filho de Moisés Cavalcante Vasconcelos e Francisca Giomar Vasconcelos, formou-se em Odontologia em 1974. Um dos pioneiros da área na Serra da Ibiapaba, construiu uma carreira marcada pelo comprometimento e pela qualidade no atendimento, consolidando um legado de excelência ao longo de cinco décadas. Já a Irmãos Pereira e Cia Ltda foi fundada em 23 de junho de 1973 por Domício Pereira, que iniciou a empresa com uma pequena criação de aves. Com o passar dos anos, a produção cresceu, acompanhando a demanda do mercado. Hoje, a empresa se destaca como a terceira maior do setor avícola no estado do Ceará, empregando cerca de 200 colaboradores diretos e 30 indiretos. Durante o evento, também foram lembrados nomes importantes na trajetória da empresa, como Fernando Sérgio Costa e Sávio Pereira de Sousa. A confraternização contou com a presença de representantes de diversas entidades parceiras, como Banco do Nordeste (BNB), Banco do Brasil (BB), Academia Ubajarense de Letras e Artes e Maçonaria. Durante a solenidade, foi destacado o trabalho da FCDL-CE e da CDL Ibiapaba por meio do programa Jornada da Integração, que visa facilitar o acesso ao crédito para o desenvolvimento das empresas da região. Ao final da noite, os organizadores reforçaram os votos de um ano novo próspero, repleto de saúde e paz para todos os presentes e para a comunidade da Ibiapaba.

A Estrela do Sábio

Artigo de Melissa Vasconcelos para a Academia Ubajarense de Letras e Artes

Por Melissa Vasconcelos O sábio não se vangloria por sua luz, nem se lastima ao se ofuscar, Pois sabes bem que nem tudo que reluz é ouro, E nem tudo que é ofuscado apresenta perda de valor. O sábio nunca se diz feito, Mas sempre se debruça aos dias Para se intensificar, mesmo perante o mal-feito. O sábio cai, mas não desiste. O sábio sabe que não é sábio: Pois a sabedoria plena é a virtude dos ignorantes. Toda estrela, para ser estrela, precisa de energia para brilhar. O sábio que estagna por se considerar sábio há, em sua grandeza, de cair. Contudo, aquele que, em sua pequenez, não se aprumar, Aquele que, em sua fraqueza, não se deixar morrer, Saberá da grandeza da estrela-aprendiz. Todo ignorante é um sábio, e nem todo sábio conhece a estima da ignorância. Mas todo ignorante conhece a estrela da sabedoria. A ignorância é a bússola do nascimento estelar: Para cada estrela, há o dia da junção e o dia do esgotamento. O tempo de vida de uma estrela depende de sua massa, E a extensão dessa massa ocorre com a liberação de luz e de calor. Como toda a luz, temos nossa energia visível. Ah! Expansiva e brilhante luz, que de longe se observa. Dos altos dos morros aos solos do sertão, A luz, quando brilha, nunca mais se faz esquecida. E, por não ser esquecida, nunca mais se faz só. Porém, assim como um filho precisa de sua mãe,A luz necessita de energia para que seja a luz Dos inícios, dos meios e dos fins. A luz é a estrela-guia da sabedoria. A sabedoria é o combustível do conhecimento. O conhecimento é a energia do sábio que desabrocha para brilhar. A estrela do sábio nunca morre: Incendeia em seu atrito com o ar.

A importância da pesquisa histórica

Pesquisa Histórica, artigo de Teresinha Moura para a revista da Academia Ubajarense de Letras e Artes

Por Teresinha Moura A História não é apenas uma disciplina do currículo escolar, não é apenas mais uma “matéria”, a História é a essência da matéria. Não se trata apenas de fatos ou acontecimento que devem ser recontados ou narrados de forma repetitiva. Faz-se necessário uma inovação a cada leitura realizada, os acontecimentos devem ser recontados de vários ângulos para privilegiar a sensações do leitor. De certa forma, podemos dizer que a História está sendo recontada de forma verdadeira, somente agora. Atualmente há uma metodologia nova voltada para uma análise mais complexa de dados históricos, com o intuito de descobrir quais foram os verdadeiros papéis e seus verdadeiros “atores”. A influência da sociedade dominante de cada civilização sempre foi o pilar da escrita histórica, trazendo sempre sua participação como principal e detentora da verdade. Infelizmente alguns fatos foram distorcidos e começaram a ser descobertos e reescritos dando ênfase às mudanças sociais ocorridas em virtude destes. E no Brasil não foi diferente, nossa história foi escrita seguindo os acontecimentos políticos e seguindo como história verdadeira, aquela de outras civilizações. Somente após o período colonial, com a Proclamação da República, os fatos começam a ser narrados um pouco mais dentro de nosso contexto e desde o século XIX, a função do ensino de história era preparar os nobres para exercer o poder e o direcionamento do comportamento social. Dotados de um conhecimento que apenas servia de suporte para a aparência, alguns nobres usavam este conhecimento para pregar ideais de democracia. O ideário da escola nova, na década de 1920, levantou algumas discussões sobre ensinar história criticando a seleção de conteúdos políticos, sua abordagem cronológica, a ênfase no ensino do passado e a relação entre o nacionalismo e militarismo. Todavia, não houve grande colaboração para mudanças, pois, as propostas recaíram “na memorização excessiva, na passividade do aluno na decoração, na periodização política, na abordagem factual, etc.” (NADAI 1993, p.153). As metodologias de organização dos conteúdos no livro didático de história sempre seguiram padrões ditados pela sociedade que vivia em sua respectiva época, refletindo assim, seus ideais e suas preferências. Sendo assim, o ensino tornou-se mecânico e repetitivo. O resultante dessa abordagem reproduzida há décadas nos programas de história foi à construção de algumas abstrações, cujo objetivo tem sido realçar, mais uma vez, um país irreal, mascarando as desigualdades sociais, a dominação oligárquica e a ausência da democracia social. (NADAI, 1993, p.150). A realidade do ensino de História é que esta foi moldada por camadas dominantes da sociedade. E com o apoio de seus governos a História teve seu curso alterado nos livros para favorecer o direcionamento do conhecimento, privilegiando apenas ideias que ressaltavam feitos e acontecimentos referentes a esta sociedade. Ainda é possível fazermos, atualmente um paralelo com o período colonial. Vivemos em um Brasil que ainda tem traços de uma cultura dominante que tenta trazer às camadas mais baixas da sociedade um conhecimento mecanizado tirando a oportunidade de acesso a materiais mais bem elaborados que valorizam a pesquisa e o debate. Atualmente é o que mais tem faltado para melhorar a qualidade do ensino de História; além de metodologias diferenciadas, a questão dos recursos também exerce uma influência muito grande nos resultados que devemos alcançar. Não é suficiente que os alunos assimilem os conteúdos históricos apenas para obter a chance de ir para outro ano de estudo, não é somente decorar trecho mais importantes de nossa História, mas interpretá-la de forma contextualizada para que os conhecimentos permaneçam para toda a vida com esses alunos. Infelizmente sabemos que a maioria de nossos alunos não dispõe e não terão muito em breve a sua disposição, recursos didáticos mais lúdicos. O preço por este acesso é altíssimo para algumas camadas sociais. Há pouco tempo apenas, o homem tomou consciência da importância da pesquisa histórica verdadeira. A humanidade percebeu que somente através da História podemos refletir sobre nossas ações e nos prepararmos para o futuro. Sobre isto, Rudimar, (2007), comenta que o professor de História quando planeja suas aulas aparecem subjacentes ao seu trabalho, teorias da historiografia. Essas teorias podem ser percebidas na ação docente que leva o professor a produzir uma aula de história centrada na narração de fatos, na crítica social ou na reflexão dos conflitos de classes. A partir desse reconhecimento, identificam-se modelos diferenciados que vão do positivismo à tendência da Nova História, que contemporaneamente acaba por combinar vários modelos de interpretação. Mesmo percebendo a discussão polêmica que cerca esse assunto, inclusive a utilização do próprio termo paradigma para o campo das ciências sociais, acreditamos que esses modelos existem, coexistem e influenciam de formas diferenciadas as práticas didático-pedagógicas no ensino de História. O ensino de História requer contextualização para obter resultados favoráveis a assimilação e compreensão dos conteúdos estudados. Para entender o processo de construção da História, o aluno precisa primeiramente entender os motivos da necessidade de estudá-la. Não é apenas uma reprodução dos conteúdos e uma imitação da cultura deixada por outras nações. De acordo com Bittencourt, podemos perceber que o ensino de História, embora seja alvo das preocupações de muitos daqueles envolvidos com sua prática nas escolas, ainda necessita do trabalho de aproximação com a realidade do aluno. É evidente que o professor precisa conhecer os conteúdos que tem por objetivo ensinar. Mas deve haver uma análise do espaço do aluno, para saber que conhecimentos ele detém e como ele entende a disciplina que será trabalhada. Para que os professores possam repassar os conteúdos e ensinar melhor os seus alunos é preciso ter consciência de que a apropriação dos conteúdos pelos alunos é um processo de criação e recriação. Acredita-se que cabe ao professor de História, buscar as alternativas para o trabalho com os alunos de forma que direcione os avanços na construção dos conhecimentos de História. Como cita Bittencourt, (1990): “É necessário, portanto que o ensino de História seja revalorizado e que os professores dessa disciplina conscientizem-se de sua responsabilidade social perante os alunos, preocupando-se em ajudá-los a compreender e melhorar o mundo em que vivem.” Elaborar e executar

A Cegueira Humana

A cegueira humana, artigo de Manoel Miranda

Por Manoel Miranda O texto a seguir foi escrito em 1915 por Manoel Miranda e é apresentado em sua redação original, sem alterações em sua linguagem, estilo ou ortografia. Essa escolha visa preservar as tradições históricas e literárias da obra, refletindo o contexto e a forma de expressão da época. Paira agora sobre a humanidade uma como a maldição que a infelicita e endoidece. Parece que dos vastos páramos de ignoto se desencadeou nestes dias contra o terráqueo orbe um furacão violento e pestífero que o convulsiona e abala até os mais sólidos fundamentos. A sociedade que, segundo o mais espontâneio vate da raça latina, Guerra Junqueiro, parece sofrer de escruphulas, hoje nos paroxismos de uma agonia enorme, commete loucuras e insânias não vistas, emquanto ao de cima, do comoro verdejante da Idéa nova, o philosopho-a sciencia objectivada, estuda-a e analysa-a serenamente, inda que por vezes cruze os braços desalentado; constrangido pela impossibilidade de superar as desgraças tamanhas. Elle vê a humanidade na marcha acelerada para a ruína completa e conhece as causas essenciais das mazellas que afligem, mas infelizmente não acha meios de afastá-la do negro precipício. Sente-a submergir-se pouco a pouco no pavoroso inarnel do nirvana silencioso, e não póde estender-lhe a mão protetora que a impeça de cahir nem dar-lhe o apoio que a restituia ao coruscante sol do progresso e da paz mundial, ao sansara do trabalho que constitue a existência terrena. Evoca então reminiscências pagãs, quando não havia de artificial mais que a tosca pedra mal lavrada como auxiliar do homem rudimentário, mas reinava a harmonia geral e a concórdia não tinha soluções de continuidade naquelas boas e primitivas gentes pharaonicas. Remonta a esses dias obscuros do passado longinquo, quando a annosa arvore da civilização não chegara ainda a cobrir com a sua ramalhuda e farfalhante fronde magestosa as terras todas do Oriente e Ociente, e os homens lhe não buscavam a sombra deliciosamente confortável mas perigosamente intoxicadora. Vê, in mente, o seu desenvolvimento agigantado, acompanha-lhe o desdobramento do caule augusto, o renovamento das suas células vibratis, a coloração de sua folhagem imponentíssima, a opima frutificação de sua floração rescendente e multicor. Vê o cuidado do homem, no evoluir das idades, festejando-a e regando-o com carinhoso afecto, a cada fruto sazonado entoando hymnario apotheótico. E mais tarde doces pomos que abundaram e que eram as admiráveis combinações da dhímica, as invenções assombradoras, a aplicação da eletricidade, o telégrafo, a Imprensa, o phonografo, e mais o cinema e o balão e ainda mais o radio, e os homens a se vangloriarem e se embevecerem no saborear de tão doces maçãs, olvidando a família e olvidando o amor, esquecidos de Deus e do futuro… Porém, o institucionalismo de que se cercaram, necessários à índole impetuosa dos avoengos remotos, prende-os por fim ferreamente nos grilhões dos preconceitos fúteis, e mais os aperta na engranagem complicada que o oleo dos paragraphos lubrifica constante. Neste circulo atróz que os não deixa moverem-se e coareta-lhes toda a liberdade de agir e raciocinar, têm os homens até dificuldades de respirar o por um hausto refrigerante de oxygenio vital degladiam-se e esphacelam-se em pugilatos tremendos, de todos os dias e de todos os instantes, no recesso do lar e na vastidão da praça pública, na aldeia mais pacata e na capital mais populosa. Por um sopro deste ar que é o metal sonante que lhes proporciona ephemeros prazeres e mesquinhas honrarias, viu o pensador dividirem-se os homens em facções distintas e os viu abrirem a luta que não mais terminou. A arena onde se batem os gladiadores como feras na disputa da presa sangrenta, veiu de chamar-se política. De um lado e de outro, as hostes aguerridas e reciprocamente, mortalmente odiadas. A vasta família humana separada em dois partidos inimigos, entre os quais a barreira da diciplina se interpõe, se avoluma imensa, altiva parecendo dizer. Parae. Cada grupo reze com fervor o seu credo e a sua ladainha com muito mais fé do que se reza agora o Pater Noster do meigo Nazareno. A imprensa, que foi o factor máximo do progresso e da instrução dos povos, desvirtuada nos seus fions, prostituída, às vezes, é a trompa altisonante que apregoa as cirtudes e as sudidades de ambas as aglomerações contendoras na razão directa do quadrato dos interesses alimentários e na inversa do mal que se deseja fazer. Do alto da sua turris ebúrnea, onde se isolara com os raros reis adoradores da Arte, o pensador vê tudo isto com o coração contristado e lágrimas nos olhos. Chora por verificar o seu esforço perdido, nancia heroica e philantrophica de apaziguar os homens desvairados. Ante o estadio exauthematico agudo desta phase dolorosa de irritação extrema por que passa o organismo social entumecido da purulência das paixões descomedidas, utilisar-se não pôde o desgraçado asceta do linimento da Idéa. De lá vê elle o desfilar em baixo desse cortejo espetaculoso de tyranos e chefetes imbuídos das mesmas velleidades do mando e invulnerabilidade de Achilles. O tyrano, do seu solio aurilavrado acenando às turbas escravisadas; o chefete, ignorante e fátuo, de sobrecenho terrososo, no seu rossinante escanifrado, com um largo gesto de D. Quixote maluco, conduzindo o eleitorado inconsciente pelas veredas do crime e do deboche, ao toque mágico de varinha de Panurgio. Em sua imaginação exercitada de psycologo, como em chassi de fidelíssima Kodac, gravam-se indelevelmente todas as cenas das miserias humanas, e lá se ficam numa galeria obumbrada que ele contempla a todo instante entrestecido. Mas não desanima o visionário do Bem, o utopista da Paz, o doutrinador secular; a cada esforço perdido em prol da unificação das raças e do extermínio dos falsos, loucos, pueris preconceitos sociaes, mergulha os dedos descarnados nas mellenas grisalhas e aperta a fronte nas mãos murmurando consigo que nem tudo está perdido ainda. Elle sonha com um dia venturoso em que, da amalgama de philosophias que há semeado evanescente, uma só, forte eterna, verdadeira e pura, surgirá a grande doutrina do Porvir bendita. Sonha… E o propagador dessa doutrina

História da Família Eufrásio

História da família de Raimundo Eufrásio para a revista da Academia Ubajarense de Letras e Artes

Raimundo Eufrásio Oliveira é cearense, nascido aos vinte e oito dias do mês de Setembro do ano de 1916. Seus genitores residentes na Serra do Rosário, em Sobral, sofreram as dores da seca que assolava constantemente as populações regionais. Mais ou menos por volta do ano 1888, os mesmos transferiram-se para a Serra da Ibiapaba, precisamente hoje no município de Ubajara, á época território pertencente a Jurisdição do Município de São Benedito. Era o início da tradição, bem como a história da família Eufrásio de Oliveira, em Ubajara. A cidade de Ubajara, sempre amada por Raimundo Eufrásio, não foi seu leito de morte, embora fosse indicado por ele como o lugar ideal para findar os seus dias: sua terra natal. Julgava inconcebível qualquer argumento contrário a essa questão de sua preferência. Ele nasceu e viveu até os dez anos de idade no sítio de propriedade dos pais que muito cedo partiram para o céu deixando-o órfão prematuramente. “Sob as sombras acolhedoras dos viçosos cafezais que envolviam a casa grande do Carpina, jardim edênico do Pitanga, eu vim ao mundo num dia alegre de setembro”[1]. “No belíssimo cenários verde-esperança dos fartos canaviais farfalhantes da encantadora região da Valentina, eu adorei a natureza majestosa; ali era a nascente do famoso Olho D’Água, de águas cristalinas e tépidas, tão puras, tão convidativas tão perenes como as bênçãos dos céus; as secas o afastaram por muitos anos seguidos, e logo que o meu pai adquiriu aquelas terras, ele retornou como um prodígio de Deus para beneficiar o solo onde eu nasci” [2] Foi ouvindo as dolentes cantigas das águas da velha cachoeira do rio Pitanga, que Raimundo Eufrásio sentiu as primeiras emoções que energizam a alma do jovem no contato inicial com as maravilhas da terra. “No deleite dos cantos maviosos das graúnas no alto azul das palmeiras seculares, eu aprendi as primorosas lições da psicologia dos pássaros que cantam, que amam, alegram, galvanizam, que lutam, sofrem, morrem, mais não choram, não suplicam, nem gemem; nisto os fortes, os santos e os mártires são semelhantes às aves canoras do céu” [3] “E nas tardes quentes de verão, dominadas pelo instinto milenar da despedida, as estridentes cigarras cantadeiras choravam a saudades do sol quando morria; e a natureza encobria a serra no negro cobertor da noite; eu aprendi, assistindo aquele drama, a esperar a felicidade do dia de amanhã e a chorar a saudade do dia que passou; nas madrugadas risonhas de verão, eu era despertado, feliz e embevecido, com a alvorada melodiosa dos bandos dos xexéus, sabiás, graúnas, campinas, canários e jesus-meu-deus, numa sinfonia enternecedora que só a natureza mestra sabe craniar; aí, eu compreendi que até os infelizes podem ser felizes por alguns momentos” [4] “Dos píncaros da colina, a gente avista a cidade; aquela cidade festiva das missas de domingo e das novenas de São José, e a sedutora menina fidalga ávida de amor e estuante de progresso: A PRINCESA DA SERRA, a jóia dourada da Ibiapaba; Nessa cidade eu aprendi na Escola da incomparável mestra Maroca Perdigão Pereira, a cantar o Hino Nacional, a rezar as orações da Primeira Comunhão, a declamar poesias do genial Castro Alves e do Padre Antonio Tomaz, e amar com orgulho a minha pátria; na minha cidade eu aprendi a ler – a glória do menino de engenho; foi a partir dessa época que comecei a me afastar das tarefas comuns de tratar dos bois e coletar os feixes de bagaço de cana para transportar às costas para o pátio da fábrica, etc; dir-se-ia que eu descobriria um mundo novo, mais convidativo, mais progressista e mais humano; eu sabia ler o QUARTO LIVRO de Felisberto de Carvalho, o que para muitos companheiros já representava um diploma de letras” [5] Raimundo Eufrásio viu e venerou os filhos heróicos da cidade, que lutaram pela independência do município e conquistaram a autonomia política de Ubajara. “conheci o líder do povo Grijalva Costa, jornalista Manuel Miranda, o chefe político Francisco Cavalcante de Paula, o intelectual José de Oliveira Vasconcelos, o comerciante Moisés Bispo de Lima, o abastado Pergentino Costa, o industrial Elpídio Luiz Pereira o poeta Antonio Pereira, o rico comerciante Francisco Bahé de Macêdo, o prefeito Luiz Lopes, o tabelião e professor Antônio Celso de Jordão, tenente Ângelo Fernandes de Sousa, Raimundo Oliveira de Vasconcelos, Francisco Pinto, Flávio Lima, poeta Hemetério Pereira, Lauremiro de Vasconcelos, Francisco Alfredo Cavalcante, José Luiz Pereira, o delegado Maneco, considerado o mais rico proprietário do Município, e muitos outros que engrandeceram o torrão onde nasci”.[6] Dentre tanto narrado por Raimundo Eufrásio consta pelo mesmo que leu com frenesi os primeiros números da “GAZETA DA SERRA” e de “UBAJARA”, dois semanários que acompanhavam o progresso intelectual da cordilheira, sempre orgulhosa de Clóvis – o pontífice da Jurisprudência no Brasil, e de Farias Brito, considerado até então o mais renomado filósofo brasileiro de todos os tempos, admirou os encantos, belezas e excentricidades da maravilha natural do Norte: a Gruta de Ubajara. “a milenar e portentosa GRUTA DE UBAJARA, com as suas estalactites que marcam o relógio da civilização todos os segundos de cada século, e as estalagmites que formam, pacientemente, as pilastras para a história das pesquisas científicas que ainda não chegaram até nós; e na visita que fiz à Gruta eu assisti um dos mais belos espetáculos que os meus olhos já presenciaram: a indescritível aurora que nos maravilha, quando saídos das trevas da caverna avistamos o raiar do sol esplendoroso e mil vezes mais lindo que nos recepciona lá fora; a Gruta é, na verdade, a maravilha do Norte do Brasil” [7] Segundo Raimundo Eufrásio a fertilidade do solo, a prodigalidade do clima, a excelência da água, a exuberância das frutas, a magnificência dos panoramas das alturas e a riqueza vegetal, a constância das chuvas, a salubridade do verão serrano, a potencialidade agroindustrial espelhada na cultura secular da cana de açúcar e do café, a perenidade das plantações verdejantes, tudo isso conjugado à hospitalidade do coração generoso do povo da sua terra, representa