Encontro Marcado
Resenha do filme
ARTIGO
Por Melissa Vasconcelos
4/2/20254 min read


“Encontro Marcado” é um filme de 1998 que narra a história de como a morte se apaixonou pela vida. Similarmente às paixões humanas, a paixão que a morte sentiu pela vida começou pela vontade de conhecer.
Então, com seu poder espiritual de levar as pessoas ao outro plano em sua devida hora, a morte tomou-se do corpo de um jovem adulto que morreu após conhecer o amor da sua vida, e resolveu experimentar a sensação de estar viva.
Logicamente, o interesse da morte não era só por experimentar a vida, mas de continuar seu trabalho de subtrair outras vidas, cada uma em sua hora exata. Uma das vidas que chegas a sua hora de partida era o pai da mulher pelo qual a morte, no corpo do homem apaixonado, também se apaixonaria.
Nesse sentido, o filme se envereda por caminhos tragicômicos, onde, ao mesmo tempo que a morte, pouco a pouco, se apaixona, em corpo de homem, por uma mulher, e desfruta dos prazeres do corpo, sejam sexuais ou os que despertam os sentidos, a exemplo do paladar, que é acendido na cena em que a morte experimenta, pela primeira vez, o gosto da pasta de amendoim estadunidense, também está no plano terrestre para cumprir a continuidade de seu trabalho: bater o último ponto da vida.
Durante o filme, que tem duração de três deliciosas horas, a morte quase desiste de ser morte e se rende ao prazer da vida. A morte aprende a amar. A morte aprende sobre o cinismo de esconder as obscuridades do globo social, o que podemos ver nos instantes em que a morte oculta a verdadeira identidade de sua amada.
A morte aprende a satisfação de experimentar dos cinco sentidos humanos. A morte aprende a ter compaixão, em suas visitas ao hospital para visitar a vida da médica que lhe encantou e ao enxergar o leito de vida de suas próximas vítimas.
A propósito, uma das vítimas da morte a reconhece no primeiro instante, por sua ligação com religiões de matrizes africanas. “Egum, é você?” Questiona a paciente enferma ao ver a morte em corpo de homem, caído aos encantos da médica, mas ainda sendo quem ele é, a morte.
E quando digo que a morte quase desiste de ser a morte, é porque, além da paixão, aprendeu a amar. Inclusive, amou o senhor a qual veio destinada a finalizar a jornada de vida terrestre, o pai da médica. Senhor esse que o ensinou muitas lições sobre a vida e sobre o que há de mais importante, sobre o principal sentido que motiva os dias, que é o amor, o amar e ser amado.
O quase falecido viveu dias e dias com a morte debaixo de seu teto, por pouco, destruindo seu status profissional de empresário e presidente da empresa, sendo, a princípio, sarcástico e frívolo para com a vida do idoso, e, como se não bastasse agir como sangue-suga de toda a sua vida, estava “sarrando a sua filha”. O destino é irônico!
Todo o cenário se revirou contra a morte, que de sarrando a filha do espírito que iria levar, evoluiu para amando a filha, amando o pai que iria matar, mando os sabores e libidos do corpo humano. Ao fim, a morte já não queria mais matar o pai da mulher por quem se apaixonou, arrependeu-se de ter levado a vida do homem a quem pertencia o corpo que se apossou, e, para alimentar seu espírito padronizado de egoísmo, pelo amor que sentia pela médica, convenceu-se de que o melhor a se fazer seria matá-la e transformá-la em espírito que pudesse viver a infinitude ao seu lado. Tolice! A médica tinha pai, por quem era muito amada.
E esse pai não deixou que a morte assim o fizesse. O pai reconheceu que a morte, em sua oportunidade de vida, havia se tornado um bom homem, mas que estava confundindo os limites entre a paixão e o amor: a paixão sufoca, prende, e por essa razão, é fugaz e perde o jogo. O amor vem depois, mais amadurecido. Não prende, não sufoca e deixa ir, na certeza de que nada se tem, além do amor. Sentimentos e pessoas não são compráveis, não são coisas que se pode portar e levar no bolso. Assim, o pai da morte a fez refletir sobre o amor.
E a morte, percebendo o quão boa era a vida e o tanto de tempo que sua amada ainda teria para ser feliz, abriu mão de amá-la sem vida, e devolveu a vida do rapaz que tinha subtraído ao outro plano precocemente. Um gesto de amor! Devolver a vida do amor da sua vida - apesar de não ter aberto mão de não levar o outro grande amor da vida da médica, que seria seu pai.
Só que o pai da médica, diferentemente do seu companheiro, já tinha um encontro marcado com a morte, como todos nós temos os nossos e não sabemos quando será. Enquanto não soubermos o dia, e nem tivermos a visita da morte anunciando o nosso fim terreno, que cuidemos de construir, amar e não perdermos tempo. Até a morte quis sentir o gosto da vida. Não percamos tempo. Não percamos o tempo de amar. Não deixemos que o amor nos escape. Cuidemos das nossas.
Por Melissa Vasconcelos
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