Oirta Gomes Miranda: Uma Vida de Fé, Dedicação e Visão à Frente de Seu Tempo
Por Marcelo Miranda Oirta Gomes Miranda foi uma figura notável, cujo legado é marcado por sua fé inabalável, dedicação incansável à família, um profundo senso de justiça social e uma visão singular que a colocava à frente de seu tempo. Ela é lembrada não apenas como uma mulher exemplar e um pilar para sua comunidade, mas como uma inspiração constante, cuja vida tocou profundamente a de muitos. Como exemplo e testemunho de sua profunda religiosidade, participou ativamente da construção da Capela Mãe Rainha, que, além de ser um marco de fé, tornou-se um ponto turístico em Ubajara. Primeiros Anos e Formação: Nascida e criada em um lar de princípios cristãos sólidos, Oirta desde cedo demonstrou uma forte ligação com a fé. Seus pais e avós lhe transmitiram valores como honestidade, trabalho duro e um amor profundo por Deus e pelo próximo, que se manifestaria intensamente em seu senso de justiça e em suas ações ao longo da vida. Essa base foi fundamental para moldar seu caráter e direcionar suas escolhas. Laços Familiares e Suporte Inestimável: Casada com Manoel Miranda, Oirta construiu uma família abençoada, dedicando-se incansavelmente ao bem-estar e à educação de seus filhos. Além de seu núcleo familiar, Oirta estendia seu suporte a outros membros da família. Quando Marlene Gonçalves Miranda, esposa de seu cunhado Florival Miranda (já falecido), mudou-se do Rio de Janeiro para Ubajara com sua família, Oirta foi um porto seguro. Ela não hesitou em oferecer um emprego a Marlene no FUNRURAL – órgão governamental que garantia a aposentadoria de agricultores do interior do estado –, demonstrando sua generosidade e seu compromisso em ajudar quem precisava. Seu senso de justiça e sua perspectiva positiva eram evidentes em suas interações. Uma anedota familiar ilustra seu apreço pela natureza e sua fé: certa vez, Marlene, recém-chegada do Rio de Janeiro e de outra cultura, ao ver o céu carregado de nuvens, exclamou: “O céu está feio!” Tia Oirta, com sua perspicácia característica, corrigiu-a imediatamente: “Bate na boca, Marlene, o CÉU ESTÁ LINDO PRA CHOVER!” Um Coração para Causas Sociais e Visão de Futuro: Oirta sempre esteve profundamente ligada às causas sociais. Seu senso de justiça, herdado de seus pais e avós, era uma virtude proeminente. Ela não apenas acreditava em um mundo melhor, mas agia para construí-lo. Sua visão abrangia desde o apoio individual, como no caso de Marlene, até projetos mais amplos para o desenvolvimento de sua região. Em uma conversa reveladora, seu irmão Gomes de Moura contou que, ao visitá-la, a encontrou debruçada sobre uma vasta quantidade de papéis, escrevendo intensamente. Ao perguntar o que fazia, Oirta respondeu: “Estou elaborando um projeto para uma faculdade em Ubajara!” Este projeto, embora não tenha sido adiante na época, mostrava sua profunda preocupação com o acesso à educação em um tempo em que o estudo era de difícil acesso na Serra da Ibiapaba, solidificando sua imagem como uma mulher genuinamente à frente de seu tempo. Preservadora da Memória e Inspiradora de Gerações: Além de sua busca por um futuro educacional para a região, Tia Oirta também demonstrou um firme propósito na preservação da história e da memória familiar. Ela dedicou-se a reunir, pesquisar e classificar os escritos de seu bisavô, Manoel Ferreira de Miranda, cujo trabalho ela publicou sob o pseudônimo de “EMMES”. Essa homenagem resultou na publicação do “Diário de um Velho”, um trabalho inspirador que deu continuidade à pesquisa sobre a família, assegurando que o legado de seu bisavô e o seu próprio vivessem. Testemunhos e Reconhecimento: As virtudes de Oirta Gomes Miranda são amplamente reconhecidas. Seu irmão, Gomes de Moura, exclamou todas as suas qualidades em textos dedicados à sua vida. Para aprofundar-se e validar esses escritos, o leitor pode consultar os seguintes links: Conclusão: A vida de Oirta Gomes Miranda foi uma tapeçaria rica, tecida com fios de fé, amor familiar, justiça social e um espírito inovador. Sua memória perdura não só nas palavras de seu irmão e na gratidão de sua família, mas também no impacto duradouro que ela teve naqueles que a conheceram. Ela foi, sem dúvida, uma mulher que viveu com propósito e abençoou a vida de muitos.
Perfeição
Por Melissa Vasconcelos Não gosto de me transformar em nada que eu não seja. Não gosto de me transformar em coisa nenhuma, pois nunca me mantenho em mim mesma. Sempre nos transformamos em nada do que pensamos, e tudo o que pensamos sobre nós, tripudia-nos como Judas tripudiou Jesus Cristo. Somos os Judas das nossas vidas, criando máscaras e filtros de definição, quando, na verdade, não sabemos quem somos. Os conceitos que já julguei sobre mim e outros foram trabalhos vãos, mudando como a água que nas cachoeiras. Em cada gole, descobrimos nuances inesperadas e desconhecidas das nossas profundidades ou superficialidades, não sendo bicho, nem fera: sendo humano. Significa assim dizer que não somos completos de modo algum, e que ainda que criemos conceitos ou fórmulas, a qualquer hora, nos auto decepcionaremos: somos frágeis, falhos e falsos. Frágeis por não haver consistência em nossos princípios, de modo que todos estão sujeitos ao erro. Falhos, porque, ainda que a casa esteja bem forjada e preparada, os erros são o constante ofício daquele que se arrisca a viver. Falsos, porque exigimos dos outros a perfeição e a fidelidade de ser que nem em nós mesmos se há a confiança de cumpri-lo. Assim, somos todos estúpidos: julgando uns aos outros até os dias das mortes e apontando dedos nos narizes alheios, sem enxergar os poros inflamados do nosso próprio nariz. O nunca só existe a quem não vive, e o sempre é a mentira daqueles que negam a morte. O mundo apodrece na própria carne. A carne morre na própria pena.
Quem foi João Benício de Sousa?
Por Magna Rodrigues, filha de João Benício. João Benício de Sousa nasceu em Viçosa do Ceará em 2 de Setembro de 1933, cidade onde residiu até um pouco mais de 2 anos e somente aos 3 anos seus pais Antônio Valentim de Sousa e Hermínia de Almeida Braga resolveram morar em Ubajara – até seus últimos dias de vida, passando assim a maior parte de sua infância. Sua família se totalizou em oito irmãos, ele sendo o quarto a nascer. Chegou a estudar em escola particular, no Centro Educandário, com os professores Antônio Canilinha e o tão conhecido professor Assis. Fez o curso de admissão, como era chamado na época, curso que hoje conhecemos como ensino médio. A sua tendência musical foi surgindo com o tempo e logo procurou se aproximar de seu primeiro maestro e professor de música, o Tenente Naninho, onde com muita dificuldade financeira prestava serviço em troca do seu aprendizado. Mas como todo jovem curioso e ainda não satisfeito, resolveu ir embora para São Paulo com 19 anos, em 1948. Assim seguiu para a grande Capital por intermédio de um amigo que lá morava em uma pensão situada na Rua Tapajós, no Bairro Ponte Pequena, próxima a Estação da Luz, com poucos dias de sua chegada a essa pensão, também chegou um outro conterrâneo de nome Agenor Soares, se tornando seu companheiro de quarto e seu primeiro aluno, em seguida passaram a estudar no mesmo conservatório chamado de Conservatório de Música Vila Lobos onde sua mensalidade era patrocinada pela família Cavalcante, de Ubajara, na pessoa do Sr. Zé Cavalcante. João Benício chegou a formar sua própria orquestra, que se chamava Orquestra Benício. O grupo tocava em vários clubes, como: O MARCONDES, ITARIRI e VINTE E OITO. Chegou a se apresentar no Rio de Janeiro, fez diversos programas na TV RECORD, sendo assim bastante requisitado. Ele também formou um quinteto onde fazia os programas na Rádio Nacional somente aos domingos no horário das seis às oito da manhã com sucesso em audiência, tornado-se o mais conhecido e respeitado na área musical. Os ritmos mais executados da época era Rumba, Mambo, tcha-tcha-tcha, Tango,Bolero e Samba canção. Em 1955 arrumou seu primeiro emprego de carteira assinada em 7 de janeiro na Empresa VITRUM S.A. e saiu em 30 de maio de 1957. Em seguida, trabalhou na Indústria de Ampolas Esperança LTDA em 1 de junho de 1957 e saiu em 20 de Agosto de 1958, onde trabalhava de Auxiliar de Maquinista. Seguiu para a Companhia Paulista de Aniagens em 14 de maio de 1959 até 31 de julho de 1959. E assim passaram-se onze anos. Foi quando recebeu o seu tão sonhado Diploma de músico profissional, habilitado pela sua extraordinária capacidade de ler e escrever partituras. Mesmo sendo apto à tocar todo e qualquer tipo de instrumento musical, o Maestro João Benício tinha uma preferência particular e paixão pelos instrumentos de sopro saxofone e clarinete. E logo após a sua diplomação, no final do referido ano, regressou à cidade natal Ubajara, com 26 anos de idade. Agora finalmente titulado maestro, chega a casa de seus pais, onde a noticia logo se espalhou e causou grande rebuliço na cidade: onde todos queriam ver e ouvir João Benício tocar o som de seu instrumento que suava alto aos ouvidos de quem passava por perto. Nos meados de 1960 começa o namoro com Francisca Rodrigues de Sousa (Nenca) e exatamente 10 anos depois se casam e dessa união geram um casal de filhos Magnus Benicio e Magna Rodrigues. No ano de 1972 recebe um convite do Comandante da Polícia Militar do Piauí, Coronel Canuto, para fazer parte da Banda de Música e responsável em transcrever partituras para os demais instrumentos, com o cargo de Cabo assemelhado, levando a família para morar em Teresina. Somente com a morte de seu filho, e tendo recebido transferência para a cidade de Picos (não só para trabalhar como músico, mais também para exercer a profissão de policial), resolveu desertar e regressar novamente para Ubajara. Ao chegar, participou de várias bandas e orquestras: Benício e seu conjunto, Orquestra Santa Cecília (padroeira dos músicos), Orquestra Ritmos Internacionais e o cantor Wanderley. Bem como outras na cidade de Sobral, como: Orquestra do Dr. Amauri Barbosa e Banda, Os Panteras Bossa que pertencia ao presidente do Pálace Clube da cidade e dono de uma fábrica de chapéu, e em Fortaleza, trabalhou com Ivanildo e seu Conjunto. Ainda em Ubajara, ele passou pela Banda Ases do Planalto, na direção do Sr. Zequinha e quando saiu formou sua própria banda BQ Som em sociedade com o advogado Queiroz Pessoa, onde o mesmo, por motivos pessoais, resolve com passar do tempo, sair da sociedade e entregar sua parte ao maestro João Benício, que por sua vez muda novamente o nome da banda para Banda Tropical. Ao longo do tempo, a Prefeitura Municipal de Ubajara, na gestão do prefeito Salustiano Lima de Aguiar, convida o maestro para formar uma Banda Municipal com jovens, onde ele passou a ensinar aos interessados em uma sala perto da prefeitura e muitas vezes em sua própria residência.Sua maior preocupação era deixar esses jovens tocando e lendo partituras e somente quando almejou seu objetivo foi que se fixou como maestro assinando sua carteira em 01 de Dezembro de 1979 tendo a duração de 5 anos e 4 meses no dia 30 de Abril de 1985. Já na gestão do Prefeito Eudes Soares Cunha pede sua demissão pelo motivo de ter sido convidado para trabalhar em outra prefeitura, dessa vez na cidade de Coreaú como maestro regente e formando músicos, ficando por lá cerca de dois anos. Em 1988, em um festejo na cidade de Ubauna,tocando e maestrando a Banda Municipal de Coreaú, o mesmo começou a sentir fortes dores de cabeça durante o evento que o fez voltar a Ubajara e deixar de trabalhar devido sua enfermidade. Exatamente na data de 18 de Novembro do mesmo ano, em Fortaleza, foi detectado através de uma tomografia computadorizada a causa
21 anos em um dia
Por Melissa Vasconcelos Na noite do dia 02 de março de 2025, a população brasileira abre o champanhe para receber o reconhecimento de milhares de degraus sobrepostos à construção da cultura brasileira. “Tem maçã, laranja e figo, banana, quem não comeu? Manga não, manga é o perigo, quem provou quase morreu”. Ora, Juca Chaves! Não haveria trilha sonora mais oportuna para discorrer acerca da premiação do Oscar da noite do domingo passado. Para assistir à premiação, preparei a receita do suflê de queijo do livro de receitas da Eunice Paiva, em meio ao clima chuvoso da serra e aos ânimos carnavalescos de Ubajara à flor da pele. Se bem que, na minha cútis, o espírito de bloco e avanços do carnaval não pulsou muito bem esse ano. Porém, para o dia do Oscar, fazendo sol ou chuva, estando eu doce ou agridoce, deleitei-me a me concentrar em meu bom humor, pois não é sempre que se vê uma múltipla premiação – Cinema, História, Literatura, Direito – em uma só estatueta para a Arte Brasileira. A receita do suflê de queijo foi retirada do próprio livro “Ainda Estou Aqui” , que originou o filme de igual nome. Logo pronto, servi-me com o suflê quentinho, para que não murchasse. A preparação do suflê foi um afago ao meu peito, como o restante do meu dia 02 de março assim esteve em suas horas anteriores – pela manhã, recebi uma bolsa que minha madrinha de batismo comprou de presente para meus trabalhos e estudos, e ganhei uma linda blusa verde de crochê de minha madrinha de crisma. Os presentes, sejam de coisas ou de pessoas, precisam ser postos à mesa ao saírem de seus fornos, tal qual ao suflê de queijo, para que não murche. Todo amor, se não servido quente, murcha. O amor é como um suflê de queijo, fogoso e saudoso, bem servido para um dia de chuva. A você que lê, quando ganhares um suflê de queijo, não se demore a degustá-lo, para que não perca a chance de sentir a maciez de uma deglutição sem atrasos, de um paladar sem jogos. Não oportunamente, a celebração do Oscar caiu no domingo de carnaval, o período do ano mais comemorado pelos brasileiros em suas diferentes facetas e formas de articulação. Dessa vez, estendeu-se às vantagens para festejar a Cultura Brasileira, a Literatura Brasileira, a formação política, a História, os Direitos do nosso torrão: Marcelo Rubens Paiva, filho da advogada de Direitos Humanos Eunice Paiva e do deputado federal Rubens Paiva, escreveu geniosamente a obra “Ainda Estou Aqui”, celebrada pelo prêmio Jabuti de Literatura em 2016, na âncora do mundo das Letras, e, agora, quase dez anos depois, adaptado para abrir luz aos olhos e música aos ouvidos – atentos e desatentos – da população brasileira e internacional, em sua adaptação cinematográfica dirigida por Walter Salles de mesmo nome “Ainda Estou Aqui”, com sua resplandecente premiação no Oscar. Entre os anos de 1964 a 1985, parava a sociedade brasileira e se amortecem os juízos e os letrados para o abate dos corpos, o derrame de sangue, as bocas silenciadas, as famílias destruídas e as vidas subtraídas em favor de um regime sanguessuga. Não se abatiam somente as vidas dos deputados federais, defensores, escritores, médicos, músicos: retiravam-se as vidas dos filhos, dos pais, dos irmãos, do alicerce de famílias inteiras. Quando Marcelo Rubens Paiva perdeu seu pai para a repressão ditatorial, tinha apenas 11 anos ao ver, em 1971, a vida de seu pai sendo reduzida como se subtrai de um número de uma conta de matemática, sem retorno de notícias, sem documentações; ao ver sua mãe em luta, tomando as rédeas de uma família de cinco filhos, perdendo o seu grande amor e companheiro em meio a enxurrada de sangue jorrado nos asfaltos da sociedade brasileira, à época. Com certeza, a raiz da veia literária de Marcelo Rubens Paiva nasce da sensibilidade em meio a brutalidade – a manifestação artística de Marcelo por meio da escrita assemelha-se à floração do Mandacaru, sobrevivendo às secas em virtude da capacidade de reter água. As palavras de Rubens Paiva nasceram de socos no estômago, como se resgata da literatura lispectoriana, e de tantos socos e ferros ornamentados ao percorrer da estrada, transborda-se a retenção de palavras em arte resistente, em livro. A sensibilidade provém das rudezas, e a brutalidade provém da ausência de sensibilidade. Por isso, toda a arte costuma desaguar das faltas, e toda a seca costuma advir dos excessos. A quem mais falta, mais nascem mais frutos, ainda que estes demorem a frutificar. Admiramos hoje punho de um escritor que denuncia, por meio de sua brutal sensibilidade e de sua sensibilidade brutal, o rasgo de inúmeras famílias destruídas, o grito sufocado de sua mãe, a dor de cinco filhos em desespero e desamparo. Celebramos a força do cinema e da autenticidade brasileira, e mais do que nunca, lembramos da nossa história como primeiro suplente do juízo. O Oscar de melhor filme internacional para “Ainda Estou Aqui” é de Marcelo Rubens, de Eunice Paiva, de Walter Salles, de Fernanda Montenegro, de Fernanda Torres, de Selton Mello, é Nosso; sobre as nossas lutas, os nossos Direitos, as nossas conquistas, a nossa história, o nosso jeito de escrever, o nosso jeito de atuar, a nossa cultura plural: é para nos lembrar que ainda estamos aqui – não aos prantos, mas sorrindo, como símbolo de força, embate e resistência. Fomos para a bancada de jurados do Oscar o que um suflê de queijo quentinho é para os cinco sentidos dos corpos e um amor sem jogos é para o coração.
Zé Preto, o dançarino do mercado público
Por Edmundo Macedo (in memoriam) Quase todos os dias, Zé Preto dava presença nas bodegas (mercearia) do Mercado Municipal de Ubajara. Homem simples, descontraído, olhos ligeiramente castanhos no rosto negro davam-lhe um charme raro. Contava e ouvia histórias valentes em defesa dos oprimidos. Reclinado nos balcões das bodegas, conversava sobre o inverno, a seca e questionava os preços do café, feijão, milho, farinha, rapadura, gado leiteiro e para corte, plantio e colheita do CAROÁ (planta de fibras têxteis) lá pras bandas do Carrasco. Entre um trago e outro de cachaça cajueiro do sítio dos Pereira, o assunto de maior atração, era o momento político. José Preto foi um fervoroso e fiel amigo, do Major Pergentino Costa, chefe político de liderança comprovada em toda a serra da Ibiapaba. Este simpático homem vestia-se à capricho. Porte elegantérrimo, exibia feliz, camisas, calças, paletó e gravatas no mais alto estilo da época. Nos dias frientos, ostentava um capote preto (casaco comprido que fazia parte do uniforme militar), não esquecendo o chapéu-côco sobre os cabelos meio grisalhos. Quando aparecia à rua 31 de Dezembro, rumo ao comércio local, seu andar firme parecia um príncipe indo ao encontro de uma princesa Muzunga de raça nobre. Gostava de jogar baralho com o seu grande amigo e protetor Major Pergentino Costa, sem dúvida um dos filhos de Ubajara merecedor de uma estátua na Avenida principal da cidade. Seu amor a Ubajara faz parte da história. O carismático Zé Preto teve como vício e feitiço maior, a dança. Bailava todos os ritmos numa sintonia de passos e movimentos. Não perdia um SAMBA (nome dado às festas nos sítios àquela época). Em salões enfeitada com papel crepom, bandeirolas e laços de fita, a festa não tinha hora certa para terminar. As latadas e terreiros de chão com barro batido ficavam apinhados de dançarinos. Das 8 da noite até madrugada Gonçalo Galvão, o “sanfoneiro” mandava som no baião, samba, forró, chote que rolavam soltos pelas quebradas da serra. G. Galvão e seus dois companheiros (um no pandeiro e outro no ganzã) não dispensavam a quente e saborosa Cajueiro. Haja fôlego para acompanhar os dedos ágeis e precisos nos botões niquelados da sanfona alaranjada do G. Galvão. Cadê o tira-gosto? – gritavam panderista e ganzarista. De repente, surge o maior festeiso e dançarino daquelas paróquias, Zé Preto, todo sorridente, felicidade nos olhos, trazendo nas mãos uma bacia de ágata tamanho médio. Dentro dela, pedacinhos de avoantes chumbadas na véspera, bem torradinhas misturadas na farinha da Serra Grande. Peça um chote, Zé Preto! – pedia Carolina do Pitanga. Num abrir e fechar dos olhos, o chote com G Galvão. Ninguém ficou sentado e nem de pé, todos no salão. A poeria subia rápida com cheiro de terra molhada. Os casais discretamente abraçados no vai-e-vem do chote, exclamavam à meia-voz: “É hoje, Manoel! É hoje, Antônia! Tá bom demais”. Ao término da quintura do chote, uma pausa. Palmas e vivas, formas de agradecer daquela gente humilde e bonita, espalhada na região de clima mais saudável do nosso Ceará. Convivi com este homem honrado e estimado. Em certa ocasião, falou-me: Deixe que eu leia sua mão direita, meu jovem! Ao esticá-la na posição certa, vi que estava amarelada. Rápido pensei e concluí: foi a manga doce que comera na bodega da minha Tia Lúcia. De imediato, apresentei-lhe de novo as linhas da minha mão. Zé Preto, bem calmo, revelou: Meu jovem Edmundo, irás viver um bocado. Nunca lute contra os indefesos; a luta será desigual. Fiquei em silêncio, baixei a cabeça, olhei o chão verde e senti emoção de viver mais um pouco. Os anos caminharam rápido, Um dia em São Paulo, soube que o romântico e simpático Zé Preto havia nos deixado apra sempre. Tenho absoluta certeza que ele está junto aos magos-advinhos em céu todo especial. Zé Preto! Antes que termine este “recordar”, escute este recado: “As dançarinas Pitanguenses, Pavunenses, Olindenses, Gameleirenses, Amazonenses e Itaperacimenses nascidas no município de Ubajara enviam-lhe de coração, eternas saudades. Até hoje sentem falta dos teus passos mágicos e estonteantes ao bailar o samba, o baião, o forró, a valsa e nosso puríssimo chote. Zé Preto! Estou pertinho dos 70 e uns anos. Vivi um bocado; quero mais, adoro a vida. Tuas luzes.
Conheça a história do sítio Matriz
Por Teresinha Araújo Moura O atual Município de Ubajara era habitado primitivamente pelos índios tabajaras. A primeira penetração foi feita por volta de 1604, por Pero Coelho de Souza, que tentou conquistar as terras férteis da serra de Ibiapaba. Auxiliado pelos jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira, promoveu a pacificação dos índios e o desenvolvimento das aldeias que começavam a proliferar às margens do arroio Árabê. A obra dos jesuítas foi interrompida, no entanto, com o trucidamento do padre Francisco Pinto, pelos índios tocarijus, durante uma cerimônia religiosa, no dia 11 de janeiro de 1608, no local onde hoje se ergue a cidade de Ubajara. Em 1877, acossadas pela seca e pela falta de viveres, as famílias de Bartolomeu Fernandes do Rego, Manuel Luis Pereira, Manuel Soares e Silva e Francisco Soares e Silva emigraram das zonas atingidas, instalando-se nos sítios Buriti, Pitanga e Pavuna. Quando a grande seca as atingiu, deslocaram-se para o lado sul de uma lagoa, denominada lagoa do jacaré, ali organizando um arruado que se chamou Jacaré, primitivo nome do Município. O núcleo foi se desenvolvendo, até que, em 1884, um incêndio o destruiu, obrigando os moradores a passarem para terras do lado oposto da lagoa. Em poucos meses reconstruíram o povoado. Em 1886 foi erguida a capela em honra de São José, em terras doadas pelos beneméritos cidadãos José Rufino Pereira, José Lopes Freire e Joaquim Mulato, em 26 de Janeiro de 1883. A capela de São José foi sagrada no ano seguinte pelo primeiro vigário, Padre Manoel Lima de Araújo, da freguesia de São Pedro de Ibiapina, a cuja jurisdição pertenceu durante muitos anos. O distrito de paz foi criado em 1890, com a denominação de Vila de Jacaré. Em 1915, por força da Lei 1.279, de 24 de Agosto, da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, conseguiu o Município autonomia administrativa, passando a denominar – se Ubajara. Hoje, com a população em torno de 35 mil habitantes foi agraciada com uma Casa de Show de alto nível – Castelo Clube – que oferece estrutura para a execução dos mais diversos tipos de eventos, desde Feiras, Congressos, Workshops, Shows Culturais e Festas Sociais (Casamentos, Bodas, Debutantes, Aniversários, etc.). Equipamento privado que veio enriquecer a infraestrutura de apoio ao desenvolvimento do turismo local e regional e ampliar e fortalecer o nosso calendário de eventos. Ubajara, que trabalha para consolidar os seus eventos tradicionais regionais como FEPAI – Feira de Produtos Artesanais e Industriais da Ibiapaba; a Exposição Agropecuária da Ibiapaba; Grandes Carnavais; Tradicional Reveillon, Festejo Junino; Paixão de Cristo; e a Semana do Município, além dos eventos esportivos e ligados à natureza, agora quer investir nos eventos de Congressos e Workshops. História do Sítio Matriz Sítio Matriz, sediado em Ubajara-CE, perfazendo uma área de 93he, sendo 55he de mata nativa, resquícios de Mata Atlântica, pertencente a família Aristides – homens e mulheres que estiveram a frente do seu tempo, sob a matrícula Nº 1617 de 21.05.17 do Cartório de Imóveis de Ubajara-CE – Nº na Receita Federal 5.126.861-2 e Nº no INCRA 147.060.003.395-6. O casal Joaquim Aristides dos Santos e Maria Soares Santos tiveram 10 filhos, sendo 05 homens e 05 mulheres, conseguiu formar 02 deles, um em medicina e o outro em Engenharia Civil, os demais homens assumiram a gestão dos negócios da família – agropecuária, e as mulheres, como era peculiar à época, direcionaram-se para as atividades domésticas, apenas uma delas adentrou para a vida religiosa – Ir. Carlota atuando em Recife, mais precisamente no Hospital Português, onde coordenou o centro cirúrgico, daquele hospital, por vários anos. Destaca-se especialmente o filho Valdemar Aristides dos Santos – que geriu os sítios situados na Serra, mais precisamente em Ubajara-CE e Francisco Aristides dos Santos – que geriu as fazendas situadas em Cariré e Tamboril, localizadas no semiárido cearense. Família regida por princípios éticos sólidos, pautada por uma amizade fraternal sem igual, mantiveram os bens em condomínio e todos se apoiavam na gestão, e todos participavam da lucratividade. Registrou-se a participação especial do engenheiro/construtor Dr. Ariolino Aristides dos Santos e Dr. Pedro Osvaldo Aristides dos Santos – médico, como também de Raimundo Aristides dos Santos – o homem de frente dos serviços – o operacional. Um fato curioso desta prole de 10 filhos foi que apenas 03 casaram-se – Valdemar Aristides com a sobrinha Antônia Mourão Santos – Suraia, Dr. Ariolino Aristides dos Santos, com Suraia Caram, uma mineira com descendência árabe e Maria Santos Mourão com um agropecuarista político de Nova Russas Gonçalo de Aquino Mourão, os demais viveram na solteirice. Fato curioso é o que não faltam nesta família, três deles – Seu Chico, Anízia e Abigail viveram mais de um século. Registra-se na 3ª geração a participação especial de Mouranízia Santos Mourão (Cariré) – a nossa tia Mourinha, que se dedicou especial aos ternos cuidados aos tios, e a gestão das fazendas do sertão, inovando no comércio, com a ajuda do seu sobrinho Joaquim Aristides Neto com as Lojas Caiçaras, em Cariré e Pacujá e em Ubajara com a Movelaria Popular. Nos áureos tempos da década de 50, mais precisamente no apogeu das culturas da cana-de-açúcar e café havia no Sítio Matriz uma locomotiva ao vapor, que gerava energia para alimentar todo um complexo, constituído de engenho de rapadura, serraria e máquina de pilagem de café. No engenho, fabricava-se rapadura, a qual era comercializada para o sertão, através de comboieiros e caminhões via Crateús. Já na serraria, preparavam-se madeiras destinadas à construção, tanto as de produção própria, como também terceiros, de quase toda a Ibiapaba traziam suas matérias-primas – a madeira, para ser beneficiada no Sítio Matriz, inclusive o madeiramento dos Patronatos de Viçosa do Ceará e Ubajara foi oriundo de lá. Com a máquina de pilagem de café, não foi diferente, tanto beneficiava o café de sua própria produção, como também beneficiava o café de outrem. Desta forma o Sítio Matriz foi destaque em toda a região Ibiapabana. Conforme o Livro de anotações da Prefeitura Municipal de Ubajara, denominado – Exploração
Casa Grande dos Salvinos: História, Herança e Resistência
Por Jonathan Ferreira Gomes Localizada no Sítio Paus Altos dos Salvinos, a então conhecida casa grande é resistente aos anos e às mudanças climáticas. Construída pelo senhor Miguel Ferreira Gomes (1885 – 1969), conhecido por Miguel Salvino, estimadamente na segunda década do século XX quando se casou com Josefa Rodrigues da Silva. O imóvel fica no terreno de 18 hectares que comprou do Senhor Manuel Narciso de Brito numa quantia de 500 mil réis que foi deixada como herança para a sua filha Anísia Ferreira Gomes. Conta com nove cômodos que abrigava todos os filhos e noras do senhor Miguel. O piso ainda se encontra em estado original. Há um sótão de madeira característico das casas antigas das primeiras décadas do século passado que servia como depósito de alimentos. A casa grande já foi símbolo de prosperidade: ao seu redor havia extensos canaviais e cafezais, além de um engenho e uma casa de farinha, onde se produzia os alimentos da família. Todos trabalhavam e ajudavam-se mutuamente. Nesse contexto, a família do Senhor Miguel Salvino foi uma das maiores produtoras de café, de farinha e dos demais derivados da cana de açúcar do século XX da cidade de Ubajara. Muitos moradores antigos da localidade se lembram até hoje das aulas de catecismo ministradas na casa grande pelas filhas do Miguel: a Anísia e a Francisca. Ao longo do tempo, a casa sofreu alterações, tais como o acréscimo de dois cômodos extras para acomodar seu filho Vicente Ferreira Gomes e sua esposa, na ocasião do casamento dos mesmos. Passou por mudanças em suas paredes para a instalação de energia elétrica. Já mais tarde foi residência de sua neta Maria das Graças Silva com sua família, seu marido e seus sete filhos. Atualmente a casa pertence ao neto do senhor Miguel, o senhor Francisco Ferreira Cunha, que a comprou de sua tia-avó Anísia. A casa grande atualmente encontra-se desabitada e tomada por morcegos. Suas paredes e pisos ainda continuam perfeitos, tendo sido feitas algumas intervenções em sua constituição como a colocação de portas adicionais e janelas por parte da Senhora Maria das Graças Silva. Não há uma manutenção diária dos cômodos, mas algumas telhas são repostas de vez em quando devido caírem com o tempo por conta de ventanias e chuvas fortes. As paredes sofreram algumas alterações sendo colocadas emendas de metal para amenizar algumas rachaduras que apareceram com o decorrer do tempo. Não há ocorrência de atos de vandalismo, como pichações ou depredação. Nesse contexto, a casa grande é a única que sobreviveu ao tempo ficando de pé para relembrar o passado longínquo dos seus antigos donos. Ela não pode ser substituída ou perder-se no esquecimento. Ela é única na comunidade Paus Altos dos Salvinos, sendo admirada e respeitada por todos os moradores que conhecem a sua história. REFERÊNCIAS: Arquivo Público do Estado do Ceará. Processo de Demarcação de Terras: Villa de Ubajara – Sítio Paus Altos: 1923-1924. Fortaleza – CE. Acesso em março de 2017. Inventário de partilhas de bens, 1970. Miguel Ferreira Gomes. Fórum Municipal de Ubajara. Acesso em abril de 2017. Relatos Orais dos moradores do Sítio Paus Altos: Edgar Cunha Silva, in memoriam (1922 – 2022); Expedito Ferreira Gomes; Francisco das Chagas Ferreira; e Maria das Graças Silva. Jonathan Ferreira Gomes é licenciado em Física pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2011); especialista em Metodologia de Ensino da Física pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (2013); e em Gestão Escolar pela Faculdade Futura (2021). É Mestre em Ensino de Física pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) do Campus Sobral (2022). Atualmente é professor de Física das escolas EEM Professora Rosa Martins Camelo Melo e EEM Monsenhor Melo do município de Ibiapina.
A importância da história local
Por Teresinha Araújo Moura, trecho da monografia apresentada à Coordenação do Curso de Licenciatura em História do Instituto de Teologia Aplicada – INTA. De acordo com Vieira, (1992, p. 122), a Serra de Ibiapaba, situada em meio a uma região de clima ao semi-árido nordestino e a noroeste do estado do Ceará, impressionam aos visitantes devido a sua beleza entre ambientes e lugares tão naturais. O tabuleiro da Ibiapaba ou conhecida mais popularmente como a Serra Grande é formada, geograficamente e politicamente, atualmente, se estende de um eixo montanhoso com início a 40 km do litoral e se avança 110 km em território cearense compreendendo as cidades de Carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa do Ceará. Foi nesse meio natural deslumbrante considerada como um paraíso arrodeada de caatingas que veio a se formar um dos resguardos missionários da Companhia de Jesus no Brasil, que era além das missões do Paraná-Uruguai. Segundo a carta anual de 1696, firmada pelo padre Miguel Antunes, havia na região Norte, mais precisamente no Estado do Maranhão cerca de 11.000 almas que eram gerenciadas pelos jesuítas; na capitania de Pernambuco existia cerca de 6.700 índios, sendo que 4.000 estavam presentes nas aldeias da Serra Grande. (SERAFIM, 1945, p. 321). De acordo com Studart (1960, p. 53), esses dados numéricos auxiliam de certa forma a entender o empenho com que os missionários portugueses que foram designados para o Maranhão assimilaram a região, domínio não explorado ainda dos portugueses, no início do século XVII, mas que já havia despertado o interesse dos franceses para a formação da França Equinocial. Por esse motivo que os investimentos catequéticos contassem com o apoio de várias autoridades colonialistas para anexar por terra caminhos e comunicação entre o Estado do Maranhão e Grão-Pará ao Estado do Brasil. Em torno de toda a metade do século XVII, a capitania do Ceará e, notavelmente as Serras da Ibiapaba, representavam, em documentos produzidos, a uma fronteira que deveria ser incorporada sem exceção ao império português. Assim, alega-se o uso da figuração Serras de Ibiapaba para se atribuir a essa região a noroeste da capitania do Ceará fosse compreendida como uma região colonial, espaço social de interação histórica, com participação de diferentes agentes coloniais. Se a região possui uma localização espacial, este espaço já não se distingue tanto por suas características naturais, e sim por ser um espaço socialmente construído, da mesma forma que, se ela possui uma localização meramente temporal, este tempo não se distingue por sua localização meramente cronológica, e sim por um determinado tempo histórico, o tempo da relação colonial. Deste modo, a delimitação espaço-temporal de uma região existe enquanto materialização de limites dados a partir das relações que se estabelecem entre os agentes, isto é, a partir das relações sociais·. (MATTOS, 1990, p.24). Assim, a região colonial era produto da influência de uma política colonialista com objetivo agregar a região das Serras de Ibiapaba, em um pensamento de ampliação territorial como uma conquista do Império português. Logo, essa região colonial era mais um que simples meio produtivo, mas sim um conjunto de elementos essenciais tendo como causa de sua integração essas referências. As diversas configurações de organização dos grupos indígenas, compostas pelas políticas indigenistas por meio da aldeia, um ambiente que se constituía restritamente cristão, representou, uma das precauções da Coroa como meio de conservação de suas possessões, até a mais remota região que fosse. Na época existiam inconstantes que moldavam duas variáveis históricas; a aldeia e a vila e que refletiam as práticas estabelecidas aos índios e que também participaram, estruturando métodos que possibilitassem, de alguma forma, afirmasse-se uma atmosfera de exercícios de sua identidade, ainda que houvesse a circunstância de dominação. O sistema de ação catequética da Companhia de Jesus era desvirtuado com as iniciativas da Coroa, ou seja, a atuação missionária dos missionários constituía-se como uma parte dos princípios a de dominação. Por volta do século XVII, ocorreram três empreendimentos sem sucessos de aldeamento com os índios nas Serras de Ibiapaba. Primeiramente, com os padres Francisco Pinto e Luiz Figueira nos anos de 1607-1608, que, foram mandados devidos a ordens da Companhia de Jesus no Brasil, tendo como representantes Fernão Cardim e do governador geral do Brasil, Diogo Botelho, formularam a campanha missionária em sentido ao Meio-Norte colonial. O missionário explorado na lida catequética com os índios do Rio Grande, o padre Pinto, é capturado na memória jesuítica como precursor e criador das missões no Maranhão e que estabeleceu um padrão mantido pelos jesuítas nas investidas missionárias ao sertão colonial. O desfecho dessa campanha missionário culminou na morte violenta do padre Francisco Pinto em 1608 que foi morto a pauladas pelos índios Tarairiú. (STUDART, 1903, p 47). Segundo os estudos de Monteiro (1994, p. 129), as investidas jesuítas não pararam. No período de 1656 a 1662 houve a segunda tentativa, em os missionários estiveram entre os índios através do comando do padre Antônio Vieira que o responsável e visitador das missões maranhenses. Quando enfim o resguardo cristão foi estruturado nas Serras da Ibiapaba por meio do Antônio Vieira, a campanha denominou-se de São Francisco Xavier, provável homenagem a um dos idealizadores da Companhia. Atenta-se que esse momento foi propicio a muitas disputas na região do Estado do Maranhão, entre os jesuítas e os colonos e representantes do poder local que mantinham concentrada a mão-de-obra indígena. Assim, é possível se dizer que o fracasso dessa investida estava relacionado a todo um conjunto de conflitos que firmaram a presença jesuítica. A investida final dos inacianos de fixação de um reduto propagador cristão junto aos nativos deu-se em 1691, com o do padre Manuel Pedroso e seu companheiro, padre Ascenso Gago. No dia 15 de agosto de 1700, devido a uma consequência de uma reunião entre grupos indígenas e representantes importantes, foi instituída a Aldeia de Nossa Senhora da Assunção nas Serras da Ibiapaba, que ficou sob o comando dos missionários jesuítas até 1759, quando foram expulsos de todo o mando dos portugueses. Com comando laico
Pássaros e Plantas: Reflexões sobre Relacionamentos
Por Marcelo Miranda Os relacionamentos, assim como as interações entre pássaros e plantas, exigem um equilíbrio delicado entre liberdade, escolhas e cuidados. Esses elementos, quando bem administrados, criam um ambiente onde tanto as pessoas quanto as relações podem florescer. A Liberdade dos Pássaros Os pássaros representam a liberdade, com sua capacidade de voar e explorar o mundo. Eles são livres para buscar novos horizontes, mas sempre retornam aos lugares onde encontram segurança e conforto. Cuido do ambiente para que os pássaros, livres, tenham o desejo de voltar. Assim, vejo os relacionamentos como um espaço onde a liberdade deve ser valorizada. Em um relacionamento saudável, cada pessoa deve se sentir livre para ser quem é, sabendo que há um lugar seguro ao qual sempre pode retornar. A liberdade, nesse contexto, não é o oposto do compromisso, mas sim a confiança mútua que permite que ambos os parceiros cresçam e se desenvolvam. Tal como os pássaros que escolhem voltar a um lugar onde se sentem bem, as pessoas em um relacionamento retornam à conexão quando sabem que ela é nutrida pelo respeito e pela confiança. As Escolhas que Nutrem As plantas, com suas raízes profundas, representam as escolhas que fazemos diariamente. Cada decisão de nutrir e cuidar delas resulta em crescimento e florescimento. Regar as plantas, cada uma com sua necessidade diferente de quantidade de água, me lembra que tenho que regar o relacionamento diariamente. Assim como cada planta exige um cuidado único, cada relacionamento também precisa de uma atenção particular. É importante reconhecer que não existe uma fórmula única para todos os relacionamentos; cada um tem suas próprias necessidades e desafios. As escolhas que fazemos para apoiar, entender e cuidar do outro são os nutrientes que mantêm uma relação saudável e forte. O Cuidado Contínuo O cuidado é o que mantém a vida presente, tanto nas plantas quanto nos relacionamentos. Um jardim bem cuidado prospera e se torna um lugar de beleza e refúgio. Da mesma forma, um relacionamento bem cuidado floresce, trazendo alegria e realização para ambos os parceiros. Regar as plantas me lembra que, da mesma forma, precisamos regar nossos relacionamentos com atenção e dedicação. Cada gesto de carinho, cada conversa sincera e cada momento de apoio é uma gota d’água que ajuda a manter a conexão viva e forte. Pássaros e plantas nos ensinam muito sobre o equilíbrio necessário em um relacionamento. A liberdade de ser, as escolhas conscientes e o cuidado contínuo são essenciais para criar um vínculo forte e duradouro. Quando cuidamos do ambiente de nosso relacionamento, assim como cuidamos de um jardim, criamos um espaço onde o amor pode crescer e prosperar, e onde sempre haverá o desejo de voltar, como os pássaros que encontram segurança em um lugar familiar. Tento fazer disso um exercício diário!
São José 314
Por Melissa Vasconcelos Meu corpo escreve em Ubajara; minha cabeça se sente em Guaratinguetá, cidade onde meu pai se formou na escola de especialistas da aeronáutica; cidade que marca a publicação de meu primeiro livro, guiado e acolhido por uma editora de Guaratinguetá. Os tempos e as pessoas são cruzamentos que se encontram na linha de previsão, não fugindo daquilo que Deus prepara para cada um. E façamos de conta que escrevo esse texto em traslado, no ônibus São José 314, que guiava os alunos da escola de especialista do Rio a São Paulo. Nesse caso, ligo-me de Ubajara aonde meu texto me levar. Na ciência, há uma área de estudo para cada coisa que alcança a mente humana: para os pensamentos, a psicologia. Para as leis, o direito. Para as palavras, o português. E assim, vários ramos foram criados para cada setor que o humano é capaz de alcançar. Bom, estamos aqui, leitor e escritora, em dias distintos: Eu, no dia 15 de janeiro, na escrita de um novo texto para a revista virtual que até você, leitor, chega… sabe-se lá em qual dia, mês ou ano! Aqui, vemos mais uma criação humana, mais um estudo embasado pela ciência, a tecnologia. Neste dia em que escrevo este texto que chega ao seu alcance, a previsão de tempo para os dias e meses seguintes é de chuva. E adivinha o próximo verso da prosa? A meteorologia, a ciência da atmosfera terrestre, da dinâmica, do estado físico e químico, as interações estudadas em cada partícula para desenhar a preparação ao tempo, faça chuva ou sol. Eu, sem propriedade, posso falar da meteorologia com ignorância, e de meu pai com a certeza de sua sabedoria. Escrever me dá a vantagem de criar máquinas do tempo, eternizar dias que não foram meus e criar ventos imaginários. Era o ano de 1989, quando um mucambense retirava-se de seu torrão e se enveredou, aos dezenove anos de idade, aos solos paulistas. Ali, fez morada em Guaratinguetá por exatos dois anos, dando início ao seu futuro profissional; e, na minha total imparcialidade de filha, acredito ter sido meu pai um dos mais competentes e inteligentes de sua área. Porém, nem o mais inteligente do mundo possui o domínio de todas as áreas ou de seus respectivos conhecimentos. Por que? Porque existem mundos que não conhecemos, acontecimentos que fogem dos fatos, tudo aquilo que escapa da ciência; toda a ciência é ficção humana no pós contrato social, e até o próprio contrato social é posterior a alguma invenção humana. Nossas mentes sempre foram imagéticas – aqui mora a civilização humana em sua completude. Mas… sempre existe o mais, o além, o que não podemos entender. Não conhecemos todas as palavras, não sabemos de todas as leis, não temos domínio sobre as pragas, epidemias e doenças que ainda surgirão, e há fenômenos que o ser humano não se torna capaz de explicar, por não ser o detentor da criação. Somos a partícula da natureza, na falha tentativa de domar um território que, na verdade, não é nosso; uma vida, um inteiro desconhecido cego ao cérebro humano, que refugia e conforte seu coração em Deus para compreender aquilo que somente Ele é dotado das próximas páginas e dos capítulos seguintes, os direitos autorais de tudo que escapa do nosso entendimento está nas mãos do Altíssimo. Por isso, ao prendermos nossos corações às invenções autorais, perdemos a caneta, o papel e as páginas anteriores já escritas. Do cético ao crente, nenhum livro se mantém vivo sem a proteção das origens, sem o curvar-se ao Pai, nenhum castelo interior prossegue seu alicerce sem o pavimento da construção. No livro “Castelo Interior”, Santa Teresa de Jesus nos diz que, como almas resgatadas pelo Sangue de Cristo, devemos reconhecer a própria miséria e ter dó de nós mesmos, e que as almas sem oração são como um corpo paralítico, que, embora tenha pés e mãos, não pode comandá-los. Um corpo que não se comanda, não se conhece. Uma cabeça que pensa sem o coração se perde, e um coração que sente sem o controle da cabeça, morre. Não é possível se conhecer sem deitar-se de onde se veio, sem seguir os passos Daquele que nos trouxe a vida. Acreditar nas próprias ideologias, enganar-se sobre a onipotência humana, criar um mundo onde há o eucentrismo derrubará qualquer um, independentemente de qualquer filosofia de vida, no começo ou no fim, mas não o destruirá. E trago uma boa notícia: as derrubadas são provisórias como as séries de fundamental e os cursos de faculdade pelos quais passamos para domar os primeiros pensamentos científicos. A inteligência confunde derrubar com destruir: aquilo que se derruba em partes é remendado, como os pontos de uma cicatriz. Aquilo que se destrói é recomeçado do zero, do princípio da matéria ou da imaterialidade. Muitas vezes, somos derrubados para que consigamos enxergar, lá embaixo, o que não conseguimos enxergar quando estamos no topo de nossos juízos e juízes: a Fé. Deus não nos destroi, nós derrubamos os nossos edifícios, desde o início, ao construirmos suas bases sem Fé, esquecendo de nossas origens, como um filho que abandona e rejeita seus pais, como uma mãe que abandona sua família por cegueira mental. Então, não caia a chuva em todas as previsões de meu pai, por maior que fosse sua competência, pois nem tudo estava dentro de seu discernimento e controle, bem como não se chove todos os dias em que a previsão de tempo aponta chuva de segunda a sexta em Ubajara, nos tempos de solstício. Entreguemos nossos trabalhos, textos, dias, corações e mentes aos Céus, pois em nenhum ônibus São José serão transmitidas de volta à base de quem se perde na própria arrogância. Sendo castelo, escola de especialistas, academias de letras, tribunais de justiça ou hospitais, baseamos nossas estruturas em Deus, esperamos Nele, pois Dele, que mora no coração de cada um, procedem as fontes da vida. Qualquer São José 314 recai no meio do caminho sem fé; mas aquele